quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Breve (e gostosa) história do 3D

Em 1838, Charles Wheatstone fez a primeira experiência com a tridimensionalidade. E no dia seguinte um espertinho já usava a tecnologia para captar mulheres nuas...


Apreciar as generosas curvas e outros deleitosos detalhes de Larissa Riquelme em 3D pode parecer novidade, mas, acredite, seu bisavô já fazia isso. Em 1838, um ano antes de o daguerreótipo popularizar a fotografia, existiam experiências com a estereoscopia. O inglês Charles Wheatstone foi quem desvendou o processo, no qual cada olho capta uma reprodução ligeiramente diferente da mesma imagem e que é a base da ilusão de óptica do 3D. O conceito firmou-se em 1851, quando aparelhos estereoscópicos foram apresentados ao público na Feira Mundial de Londres.


Durante a segunda metade do século 19, o processo era tão ou mais popular que a fotografia convencional. “A estereoscopia foi certamente a primeira difusão em massa da fotografia”, afirma Gavin Adams, fotógrafo e historiador especialista no assunto. É claro que havia uma boa parte de material dedicada ao erotismo, como atesta o livro The Stereoscopic Nude 1850–1930, de Serge Nazarieff (editora Taschen), que mostra como a então nova arte foi usada para deleite de nossos antepassados. A estereografia estava, de fato, entre os formatos favoritos para comercializar fotos de nus entre os anos 1850 e 1870. “A pornografia circulou com sucesso no formato estereoscópico por permitir ao usuário a posse de um voluptuoso mundo ocular palpável”, teoriza Gavin.


A tecnologia 3D chegou ao Brasil por volta de 1855. O responsável foi Revert Klumb, o fotógrafo oficial do império. “Dom Pedro II foi um entusiasta da fotografia, e sua coleção pessoal conta com vários estereógrafos, incluindo um retrato seu de corpo inteiro”, conta Adams. A grande vedete, no entanto, eram os nus, como ressalta o próprio dom Pedro II em uma passagem de seu diário: “Notei fotografias obscenas para estereoscópio, [Revert Klumb] deveria ao menos tirá-las do mostrador”.


O estereoscópio era um aparelho grande, pouco prático, e perdeu popularidade com a modernização da fotografia. Os nus logo migraram para os cartões-postais, que se tornaram a principal mídia erótica do início do século 20. A estereoscopia só voltou à moda com a invenção dos anáglifos (do grego ana gluphein: entalhar), que são imagens sobrepostas em duas das três cores básicas vistas pelo olho humano (verde, vermelho e azul). A nova tecnologia chegou ao cinema nos anos 1920 – na época utilizando óculos verdes e vermelhos, adequados às fitas em preto e branco. O padrão vermelho e azul só se tornaria comum com o cinema colorido, já que essa combinação garante o melhor aspecto de cores na visão em 3D. Mas o processo de criação dos anáglifos ainda era caro e dispendioso, quase artesanal, e a queda da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, freou qualquer chance de um retorno concreto.



O 3D só se recuperaria com o fim da Segunda Guerra Mundial, e a década de 1950 viu a era de ouro das produções tridimensionais. Clássicos como Monstro da Lagoa Negra e Disque M para Matar (ambos de 1954) foram filmados em 3D, apesar de o último ter sido exibido na maioria das salas em versão plana. Os quadrinhos foram outro grande expoente do período, principalmente nas histórias de terror e suspense.


Quando parecia que a tridimensionalidade ia se firmar, questões morais e econômicas novamente a colocaram no limbo. No caso específico dos quadrinhos, a criação do Comics Code Authority, em 1955, freou a produção de histórias violentas, e com elas o uso do 3D nos gibis americanos. Na parte econômica, a inviabilização ocorreu devido aos altos custos de produção. “Isso só se reverteu com a invenção da máquina digital, o que facilitou muito a sobreposição das imagens”, diz Marco Muzi, fotógrafo especializado em anáglifos.


Foi exatamente a tecnologia digital, aliada ao uso de óculos de polarização de luz, usados hoje no cinema, que possibilitou um novo boom na tridimensionalidade. Depois de um acanhado ensaio em aventuras infanto-juvenis, a tecnologia 3D deu um salto com o filme Avatar, o megassucesso de James Cameron. E, atualmente, há dezenas de produções que apostam no formato.


Na mídia impressa, as revistas também têm investido em experiências na área. A PLAYBOY americana, por exemplo, publicou um pôster de uma coelhinha em 3D em sua edição de junho. Enquanto isso, no Japão, filmadoras em 3D são a novidade para quem quer dar uma de James Cameron. A Terceira onda das três dimensões está em voga, e parece que desta vez veio para ficar.